Rael: o rap é minha lei! Em cada canto e esquina apresento minha rima!




Rael

“A minha vida é cantar, nunca no mesmo lugar.
Seja sozinho ou a dois, o resto eu vejo depois” (Rael)


Das faixas “Vejo Depois”; “Papo Reto” até “Flor de Aruanda”, do gueto ao centro, da favela ao asfalto ou simplesmente pra se libertar e cantar, Rael é uma síntese de rimas e versos que nos coloca para refletir sobre a dureza dos trabalhadores, das mães e da juventude negra em sua luta diária para a sobrevivência e fuga das armadilhas do cotidiano. Uma juventude condenada e sem perspectivas retratada nos versos “que essas brisa que te difama, que esses papelote, grama, não é mais forte do que quem te ama…”.

O rap faz parte dos 5 pilares da cultura hip hop e se manifesta na música urbana numa batida rápida, ritmada de versos com alturas aproximadas, traduzidas nas rimas. Israel Feliciano, conhecido como Rael da Rima, iniciou sua trajetória musical aos 12 anos de idade, participando dos encontros de breakdance na estação São Bento em São Paulo. Aos 16 anos montou o grupo Pentágono e ano a ano foi ultrapassando todos os obstáculos da cena musical junto com outros parceiros do rap até se lançar na carreira solo em 2010 com o álbum “MP3: Música Popular do 3º Mundo”. Na faixa “Trabalhador” ele descreve a cena cotidiana daquele que “trabalha, que luta, batalha e que busca o melhor pra viver. Todo dia sem falha junta as suas tralha e sai logo ao amanhecer…”

A caminhada do hip hop, com destaque para o pilar do rap é marcada pela perspectiva coletiva. Os manos e as minas estão sempre em conexão nos projetos que permita uma maior visibilidade das letras e rimas que denunciam o cotidiano da periferia. São letras, em geral de denúncias vinculadas à desigualdade social, a violência e à realidade nas comunidades pobres dos grandes centros urbanos.

Recentemente participei de um encontro de batalhas de MC’s num bairro de Ilhéus/BA e me impressionou a capacidade criativa na improvisação dos versos rimados expondo as experiências e repertórios individuais e coletivos daqueles jovens reunidos na praça. Quando cheguei em casa, me arrisquei em compor alguns versos e percebi que tanto numa “rima pobre” ou “numa rima rica”, os desafios de traduzir o conteúdo conforme as nossas realidades é enorme. Não se trata somente de juntas palavras rimadas, mas de traduzir sentimentos e vivências significativas.

Rael e seus parceiros Criolo, Emicida, Mano Brown, Rincon Sapiência, Daniel Yorubá, Black Alien e tantos outros, mesmo tendo que se adaptar às exigências do mercado musical consegue resistir através dos seus versos e rimas e expressar sua história, seu repertório de vida e o um olhar sensível para da realidade dura e cruel, sem deixar de lado o amor, o sentimento de solidariedade e o romantismo expresso nas rimas de “chegando ela me trouxe, a brisa pura de um cheiro doce…”

Já ouvi muitas críticas ao estilo do Rael: muito pop, muito romântico, blábláblá. Ninguém é obrigado a gostar do Rael e das suas músicas. Mas eu desafio a qualquer pessoa a ouvir a música “Minha lei”, parar, refletir e imaginar a trajetória de vida dele e dos seus parceiros do rap desde o sonho de moleque até conseguir ter visibilidade no mercado musical. A letra é um manifesto que traduz o que é ser rapper, em suas diversas versões espalhadas em cada canto e esquina da comunidade.

“O rap é minha lei
Desde os tempos de moleque é o que sei
Meti favela que nem samba canção
Peço a capela em forma de oração
Roda de rima vira celebração
Em cada canto esquina, uma versão…”
(Rael)

Rael aposta no amor e no romantismo da mesma forma que canta os desafios do cotidiano refletido na trajetória do garoto pobre da periferia de São Paulo que apostou no sonho e foi buscar um lugar para ser feliz, com sua voz doce, potente e vibrante. Seu destino poderia ter sido outro, mas felizmente ele conseguiu ultrapassar os obstáculos da vida e apostou que “o amor é forte e sempre sobressai e que somente quem pensa fora da caixinha vai buscar um lugar que possa ser feliz…”

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