Gil: um grão/drão eterno de amor!




Gilberto Gil



O dia 26 de junho marca o nascimento do Gil. São 77 anos de vida de um “Tempo Rei” singular e de um pensamento criativo transformando a sua /nossa forma de viver e ver a vida. Não poderia deixar de registrar nas páginas deste Blog uma singela gastação em homenagem ao Seu Gilberto.


A sua trajetória musical inicia com os primeiros sons tocando um acordeom e depois o violão. Sua primeira composição tem como título “Bem Devagar”. É o prenúncio de uma carreira longa, suave, inovadora e criativa. A música “Procissão” foi seu primeiro single oficial e “Louvação” foi seu primeiro álbum lançado em 1967. Bem Devagar > Procissão > Louvação e por aí em diante, a vida e obra de Gil foi sendo construída e integrada à história do Brasil desde a década de 60 até os dias atuais. 


Ao lado de grandes nomes da música como Caetano, Chico Buarque, Maria Bethânia, Gal Costa, Tim Maia, Jorge Ben, Tom Zé, Milton Nascimento e outras dezenas de artistas nascidos nas décadas de 40 e 50 no Brasil, Gil tem um diferencial - ele consegue traduzir a música em forma de poesia de uma maneira ímpar. 


Podemos até  considerar que temos vários artistas importantíssimos no cenário da música brasileira - incluindo a nova geração da MPB.  No entanto, assumo o risco de afirmar que Gil se destaca de forma singular ao conseguir traduzir em suas músicas temas como: amor, política, ditadura, morte, tristeza, solidariedade, dor, separação, tempo, entre tantos outros, em forma de composições que marcaram época e ainda fazem história nos dias atuais. 


Quem mais, se não o Gil para fazer uma música em homenagem às vovós e às mamães na faixa “Uma coisa bonitinha”?  Em descrever os “Quatro pedacinhos” do seu coração literalmente e poeticamente na música composta num momento de “quase morte”como ele mesmo descreveu recentemente? Ou mesmo ouvir “todos os corações batendo, todos os corações do mundo” como na faixa “Ouço” de  seu último álbum OK OK OK? . 


Tive o privilégio de assistir o início da turnê desse álbum em janeiro na cidade de Salvador. Um momento sublime de celebração da vida, em que Gil, ao final do show, declama os versos junto com a platéia num som harmônico de “minha ideologia é o nascer de cada dia, minhas religião é a luz na escuridão”. Sua voz visivelmente cansada, mas firme e suave, embalaram o público durante duas horas num espetáculo cheio de emoção, poesia e saudosismo. O Show foi como um bate papo musical entre ele e seu público. Gil mantém-se vivo e potente. 


Aliás, quem nunca se imaginou num papo com o Gil numa roda em volta da mesa de jantar na casa dele falando sobre música, poesia e sobre vida? Já me peguei várias vezes decorando frases e diálogos que poderia ter com o ele numa ocasião dessas. Para falar a verdade, por mais que eu sonhe, certamente numa cena real, ele iniciaria a conversa de uma forma tão doce, gentil e imprevisível, que eu acho melhor deixar fluir naturalmente... quem sabe um dia? 

Na faixa do último álbum denominada “OK OK OK” Gil desabafa: “já sei que querem a minha opinião, um papo reto sobre o que pensei, como interpreto a tal, a vil situação”. Desde a década de 60, Gil canta os versos da tal vil situação no Brasil passando pelos principais fatos políticos/históricos do nosso país. Não gratuitamente foi exilado junto com seu grande parceiro musical, Caetano Veloso, no período da ditadura militar. Em 1968, junto com vários outros artistas, inicia o “movimento tropicalista” de intervenção cultural e de resistência. De lá pra cá compõe a trilha sonora de sua vida marcada por ritmos, sons, batuques, vivências políticas e culturais, tornando-se uma das principais referências culturais e políticas da atualidade. OK OK OK Gil, todos querem saber a sua opinião.


De vez em quando paro pra pensar na história de vida do Gil e fico imaginando a riqueza de experiências, dificuldades, reflexões, decepções, alegrias e uma infinidade de sentimentos que compõe o coração desse artista tão genial. Só mesmo ele pode expressar através das suas composições - utilizando-se de metáforas como grão, drão, ilusão, chão, semeadura, caminhadura e dura caminhada, mensagens de amor e dor que tocam fundo a nossa alma. 


Em uma de suas postagens, Gil afirma que “quanto mais aprendo, menos sei…”. Nos versos de “Tempo Rei”, ele nos ajuda a refletir sobre a importância de transformar as velhas formas de viver e de que não podemos nos iludir, pois “tudo agora mesmo pode estar por um segundo”. Devem existir milhares de músicas que falam sobre o tempo e sobre a vida, mas a capacidade em simplificar e aproximar suas vivências das nossas vivências torna o Gil, ao meu ver, a representação da real “voz da experiência”.


Desejamos vida longa a este extraordinário patrimônio da cultura brasileira - o mestre Gilberto Gil. Que seus versos nos iluminem por muitos anos e nos ajudem a enfrentar essa dura caminhada dos dias atuais. Que o amor cantado nos seus versos possam sempre se tornar grãos, germinar e (re)nascer, eternamente. Afinal de contas, o amor é tudo que move e o melhor lugar do mundo é aqui e agora. Viva o Gil! <3


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